A Cápsula do Tempo de Cuité (2018-2068)

Cápsula do Tempo de Cuité (2018-2068)

A ideia de criar uma Cápsula do Tempo surgiu do historiador Eliel Soares, cuiteense e pesquisador dedicado à memória da região. Ele propôs reunir, em 2018, um acervo representativo da cidade no momento de seu 250º aniversário de fundação, preservando-o para ser reaberto em 2068: ano em que Cuité completará 300 anos. O objetivo era simples e profundo: permitir que as gerações futuras pudessem reencontrar, em objetos e palavras, o retrato sensível de um tempo. 

A cápsula foi concebida como um recipiente de vidro transparente, com um metro de largura, cinquenta centímetros de altura e cinquenta de profundidade, fabricado artesanalmente pelo vidraceiro cuiteense conhecido como Netinho da Vidraçaria. O vidro, de 6 milímetros de espessura, foi selado com bordas de alumínio e frisos de borracha, na tentativa de torná-la hermética. Para reforçar a proteção dessas memórias, foi construída uma espécie de câmara subterrânea [complementar].

O acervo depositado dentro da Cápsula é variado e profundamente humano. Reúne documentos oficiais de instituições locais, livros e trabalhos acadêmicos, poemas, fotografias de ruas, pessoas e eventos ocorridos entre janeiro e julho de 2018, além de mensagens escritas à mão por alunos de escolas e moradores de diferentes bairros. Foram incluídos ainda objetos cotidianos, materiais gráficos e publicitários, recortes de jornais e um quadro pintado pelo artista cuiteense Célio Furtado. Juntos, esses elementos formam um retrato da cidade no tempo: o que ela produzia, como se via, o que sonhava e o que desejava registrar de si.

Para acompanhar esse acervo, um grupo de crianças e jovens foi batizado como “Guardião(ães) do Tempo”, simbolizando o compromisso da juventude com a proteção da memória e o reencontro com o futuro. A solenidade de “abertura” do projeto ocorreu em 17 de julho de 2018, no pátio do Museu do Homem do Curimataú, com a apresentação pública do artefato e do plano de acervo. A cerimônia de “encerramento” aconteceu poucos meses depois, em 23 de setembro de 2018, durante as festividades em homenagem a Nossa Senhora das Mercês, padroeira de Cuité. A Cápsula foi então depositada no mesmo solo que acolheu as primeiras fundações da memória social da cidade, em um gesto que homenageia tanto o fundador que doou as terras para a construção da capela da santa quanto a própria padroeira.

O local escolhido para abrigar a cápsula também carrega forte valor simbólico. Ela repousa no subsolo do Museu do Homem do Curimataú, dentro de uma réplica do antigo coreto que ornava a Praça Barão do Rio Branco — hoje Praça Cláudio Gervásio Furtado. O monumento, projetado e construído em alvenaria, foi revestido internamente com cerâmica e protegido por lajes de concreto, formando uma pequena câmara subterrânea destinada à guarda do tempo.

Desde então, a Cápsula do Tempo de Cuité tornou-se mais que um objeto histórico: é uma obra coletiva, feita de mãos e gestos de uma comunidade que [complementar] a registrar o seu próprio tempo. Ela guarda, em silêncio, não apenas papéis e objetos, mas a promessa de um reencontro com o passado quando, em 2068, outra geração poderá encontrar, se estes resistirem, o reflexo do que fomos.

Assim, a cápsula foi enterrada no mesmo solo que acolheu as primeiras fundações da fé e da memória de Cuité. Desde então, a Cápsula do Tempo de Cuité tornou-se mais do que um projeto histórico: é uma obra coletiva e afetiva, feita de mãos e gestos de uma comunidade que aprendeu a registrar o seu próprio tempo. Ela guarda, em silêncio, não apenas papéis e objetos, mas a promessa de um reencontro — quando, em 2068, outra geração abrirá o vidro e encontrará, dentro dele, o reflexo do que fomos.

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